sábado, 28 de julho de 2007

Diamante interior


Eu queria poder recompensar cada ato de bondade que recebo.
Ontem eu peguei aquele ônibus. Toda vez que entro nele, não posso deixar de me lembrar do que aconteceu quando o tomei a primeira vez.

No dia em que peguei aquela linha de ônibus para voltar para casa, me informei com o motorista, um homem muito loiro com feições gentis, sobre o caminho e se a linha passava perto de minha casa, e assim subi. Passeei pelos bairros, fui e voltei até que comecei a reconhecer o caminho: eu estava chegando. Mas me precipitei. Achei que eu tinha entendido mal a informação e desci num ponto muito antes do meu, longe de minha casa. Quando eu chegava na porta apressada para descer, ouvi alguém me chamar, mas fiquei incerta. Depois, quando desci e fui andando, o motorista ainda me olhou e perguntou lá de seu banco: "É aí mesmo que você quer descer?" Ainda mais confusa, assenti e fui andando para casa.
Depois o ônibus passou por mim e eu constatei meu erro. E me lembrei do rosto do motorista, ao confirmar comigo. Mesmo diante de um erro meu eu sneti que ele era capaz de me deixar subir de novo no ônibus para ir até o ponto certo. Ele prestou atenção em mim, teve interesse... quantas vezes isso acontece nesse mundo agitado e frio em que vivemos?
Por esse pequeno episódio, entendi
que a bondade está por aí, embora muitos preguem que ela não existe mais. Concordo que seja rara e faltante em nossa sociedade, porém eu a posso ver em muitos lugares. Se manifesta timidamente. É um brilhozinho súbito que chama minha atenção.
E antes de tudo, ela existe em mim. Em qualquer coisa me esforço em demonstrar bondade e todas as acompanhantes dela: compreensão, gentileza, paciência, gratidão, respeito, educação... Claro que como os outros 6 bilhões de pessoas nesta Terra, eu sou imperfeita e às vezes não consigo ser tão bondosa como devia. Assim, sou também humilde e peço desculpas por isso.

A bondade existe. Ela é um diamante interior que brilha só para aqueles que estão dispostos a expô-lo, por que afinal, todo o diamante é único e raro e alguns são egoístas a ponto de esquecê-lo dentro de si, deixando de exibir seu cintilo encantador. Também, este só pode ser apreciado pelos atentos. Desejo a todos que nunca deixemos de estar entre estes.
Porque eu vejo o rutilar da bondade todo o dia. Desde a hora que eu acordo até a hora de dormir. a admiro por observar a forte presença dela em minha família, estes sendo os que mais a demonstram para mim desde que nasci.
Não é justo eu ignorar a existência desse cintilo. Não podemos permitir que a bondade concedida a nós seja ignorada. É uma coisa preciosa demais para ser descartada. Não é certo ser mau-agradecido diante da imerecida bondade de Deus por vivermos mais um dia.
Mas eu fico tão contente por tudo e meu desejo é de sempre ser capaz de retribuir o mínimo gesto, mesmo que proceda de um estranho. Queria ter meios materiais de presentear todos meus parentes e todos meus amigos que estão sempre comigo, me ouvindo, me aturando, não importa se eu os conheci ontem ou há dez anos. Tantas pessoas me sorriem todo dia, eu queria ser capaz de mostrar o quanto eu aprecio sinceramente cada sorriso e que presto atenção à cada gesto de gentileza demonstrado.
Então concluo que a única solução para essa minha ânsia de retribuir e valorizar é me esforçar em devolver a mesma bondade que me é cedida. Afinal, a Regra Áurea ditada por Cristo está aí ressoando sua verdade:
"Tudo que quiser que façam a você, faça primeiro a eles". Se todos cumprirmos essa simples e única regra, a bondade continuará vivendo. E isso com certeza fará bem a todos nós. Não vamos mudar o mundo, não, melhor ainda: vamos mudar nosso modo de viver.
A única culpa que eu quero ter é a de ostentar esse lindo diamante.
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Texto do dia:
"Mantende estrita vigilância... por que os dias são iníquos" Efésios 5:15;16
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Essa é a sétima postagem do meu blog!
Muito obrigada a todos que vem comentando e participando e vivendo junto comigo as matérias-primas e inspirações dos meus post!
Espero continuar a poder contar com todos vocês!
Love you all! <3

terça-feira, 17 de julho de 2007

Hanami / Hai-kai partido


Cerejeira rosa
em flor efêmera
beleza perpétua
Tive oportunidade de ver a vida por um novo ângulo. Mania inexplicável de me colocar no lugar e vivenciar com intensidade o que não é meu. Fiquei meditando sobre minhas atitudes no lugar dela. Seria eu tão forte? Guerreira? Decidida? Seria eu tão mulher quanto ela, tão corajosa?
Aprendi muito. Nunca fiquei tão grata. Entendi o que achava incompreensível. Tive a feliz oportunidade de ter tanto, ganhei tanto com o que achei ter sido vão! De repente, o querer e não possuir se tornou supérfluo: não, eu não vivo isso. Meus problemas empalideceram - eu não tenho nenhum.
E vi que o amor tem muitas formas. Vi que amar não é viver o amor, mas senti-lo. E quem é que não ama? Isso, com certeza, nasceu com cada um de nós, não me importa o que os especialistas digam. E isso nos alimenta. É pelo amor que estou viva agora, que existo, e também é porque amo.
Percebi que muitas vezes, a água é mais intensa que o fogo, vai mais longe que qualquer chama através de sua fluidez versátil. Ser gentil e humilde traz recompensas que nada mais produz. Se revoltar contra o imutável não leva à nada, a não ser à dor, mas ter autodomínio te faz suave e brando de modo que por mais que se morra interiormente, torna-se resistente, engrandecendo o espírito.
Me encontrei apreciando memórias alheias, numa noite de segunda-feira.
O hai-kai partido ainda é melodioso, mesmo que triste e sem propósito. Me compadeci dele e de sua beleza desperdiçada. Meditei no que ele tentou transmitir, lhe sorri compadecida, tentando imaginar como seria se fosse completo, se tivesse sentido. Seu rosto era o da mais perfeita fineza, mas seu coração era hostilizado e, por isso, mal. O hai-kai partido fez parte do hanami ao qual compareci. Embora ele chamasse muita atenção, tudo apenas aconteceu por causa da cerejeira mais bonita do jardim. Nesse festival vi tudo florido, lindo e rosa em glória, e logo em seguida vi tudo murchar.
Durante duas horas desfrutei a beleza e suavidade gentil da efemeridade profunda do coração de uma mulher em meio ao exotismo interessante de um estrangeiro distante, mas cenário de temas universais. A cinderela gueixa, Sayuri, teve seu final agridoce, porque afinal, a felicidade não é feita só de flores.

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Texto do dia
"Andarão atrás de Jeová." - Osé. 11:10

terça-feira, 10 de julho de 2007

Le Festin


Tem coisas que são à primeira vista, à primeiro som. São essas que tocam nosso coração de forma indelével, nos invadem pelas portas dos sentidos. Você se encanta para nunca mais esquecer.
Um apelo aos sentidos pode vir de qualquer fonte, a mais simples que seja - um perfume, um gesto ou um sorriso basta. Por isso, recomendo que estejamos atentos. Preparemos o coração para receber cada dia como algo novo a ser provado. Todas as coisas em algum momento foram impossíveis antes de acontecerem.
Com charme, bom-humor e vivacidade me foi servido um banquete para os sentidos. Valeu cada minuto! Por mim eu repetia o prato muitas vezes! E quem não? Algo que suscita aplauso depois da primeira degustação merece muito crédito! O deslumbramento infantil que reaparece às vezes vem para lembrarmos que ele existe, mas é saudável; por que deixamos de experimentá-lo? Altura não é desculpa - eu sei que crescemos inevitavelmente, mas não por isso devemos parar de ver a graça das coisas. Acredito que precisamos apreciar melhor as sutilezas que nos cercam e fazer o que realmente vale a pena valer, e não deixar passar só porque ali parece tão banal. A alegria não precisa de grandes coisas para existir e nem é tão difícil de conseguir, mas está por aí esperando ser notada. Use seus sentidos com mais apuro e com certeza notará o quanto se oferece para nutrir essa luz.
Não dê importância aos obstáculos além daquela que lhes cabe - porque eles também fazem parte da apuração de nossos sentidos, não podem ser evitados também.
E pensar que esse post só existe por causa de um simpático e pequenino ser que nem existe: um ratinho chamado Remy. Quem não se comove com a saga dele? Contagia! É inevitável! Estimulados pelas cores e músicas, pelo roteiro rico bem desenvolvido, pela atmosfera bon vivant do filme, entendemos um pouco sobre o que é realmente aproveitar as boas coisas da vida. A mensagem é universal: o impossível nem sempre é tão impossível assim. Qualquer um pode fazer qualquer coisa, contanto que empenhe-se, que tenha vontade sincera e prazer. O coração sai quentinho e contente do cinema, como se tivesse mesmo tomado uma boa refeição entre amigos, descontraído e satisfeito por ter acompanhado o desenrolar saboroso de uma bela fábula sobre a riqueza das sensações, sobre como é complicado lidar com elas, sobre como é gostoso arriscar e se deixar surpreender, enfim, sobre como é bom viver.
Afinal, se Monsieur Ego se derreteu após provar o encanto de Ratatouille, quem sou eu para resistir?
O que é simples é que faz a diferença.

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Texto do dia:
"Prossegui em levar os fardos uns dos outros e cumpri assim a lei do Cristo" - Gál.6:2

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Considerações Teleológicas

Enfim, o fim.
Porque o que é bom também acaba...
Acho que existem coisas insuportáveis nessa vida. Acho que o fim é uma delas. Entretanto, acho também, ao mesmo tempo, que não deveria ser assim.
O assunto não parece redundante? Já falei sobre isso aqui. Mas isso na verdade é apenas oportuno.
O fim - nada mais presente em nossas vidas. Tudo acaba. O que é bom, o que é ruim. Não existe exceções. Quase nada é contínuo, linear. Dessa forma, nada devia ser mais aceitável do que o fim. Por isso me intrigo com o fato de o encararmos tão insuportável e evitá-lo.
Coloquemos a culpa no tempo, então. É ele quem passa sorrateiramente e faz o fim chegar. Pobre tempo! O que é que ele faz demais, a não ser o seu trabalho? Eternizar as coisas -impossível da forma que queremos, sem a corrente do tempo. Não ficaríamos contentes com a mesmice.
O fim não é uma coisa categórica. Quando vem, não interrompe tudo da forma que pensamos. Ele produz tanto quanto um começo, pois afinal, é na sua repercursão que podemos ver em plenitude o resultado de nossas ações. O que ganhamos e perdemos, como mudamos e o que aprendemos só é visível quando o ciclo se encerra.
Ah! Se isso fosse o bastante para se conformar! Mas a sensação da perda é forte, difícil de consolar. A quebra do hábito, o desapegar, tudo consiste num forte trauma, cinzel maior, ferida que demora em fechar. É isso, na verdade, o que dói: esse cicatrizar lento, superficial.
É estranho pensar que agora não vai mais ser como era antes, depois de tanto tempo vivendo dessa forma incomoda não ouvir as mesmas vozes, não ver os mesmos rostos, não saber, não participar mais. E desde já - quanto mais recente, mais intenso - isso me faz falta.
Voltemos a falar do tempo. Se o taxamos vilão de nossa história, nos equivocamos. Seu vôo sempre constante e controlado permite que colecionemos algo que preencherá a falta do que chegou ao seu fim, este natural ou abrupto. Existem muitas coisas inestimáveis, e entre elas, as lembranças.
O álbum de fotografia mais completo. O baú de tesouros sem preço. O obelisco. Caderneta de datas, nomes e endereços. O livro de consultas. Essas são apenas algumas das funcionalidades da memória. Graças a ela, sentimo-nos completos, visto que nos permite reviver uma vez mais aquilo que se foi, mesmo há anos. Apenas uma palavra aos incautos: a memória também condena, e tem em cantos recônditos onde estão armazenados nossos desgostos e amarguras, porque ela não ignora tais coisas, mesmo ao nosso contragosto.
Mesmo assim, quem sabe manejar essa incrível capacidade vive bem, faz amizade com a saudade. E sejamos clichês, visto que se algo é clichê é porque é verdadeiro: "a saudade não existe por que nos separamos, mas por que um dia estivemos juntos." E se você quiser, ela não te machuca. E se você quiser, ela te acompanha sempre para estabelecer uma ponte entre o ontem e o amanhã, para que de repente, se curada, tudo seja como se na verdade o fim nem tivesse sido. E nessa dimensão íntima as coisas não passam. Se hoje nos despedimos, tenha certeza que, reencontrando você - amanhã, semana que vem ou daqui 10 anos - nada mudou, não me esqueci de lembrar o quão importante foi o que vivemos juntos.
E assim, como já declarei acertadamente no início, tudo tem de chegar a um fim. Até mesmo esse texto.

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Texto do dia:
"O homem caminha para sua casa de longa duração." - Ecl. 12:5

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